"Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido". (Hermann Hesse)
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
"Cuide-se como se você fosse de ouro. Ponha-se você mesma de vez em quando numa redoma e poupe-se".
(Clarice Lispector)
E, deixe o vento, as pessoas, as amizades, as dores, passarem.
Veja tudo isso sem afetar-lhe e cuide de si, com o sentimento de amor próprio que por vezes só se aprende, sentando e contando sua vida a alguém que lhe ouve em silêncio e que o interrompe com bons conselhos.
Amor próprio é simplesmente interagir com o mundo, com sua família, amigos e as dores e alegrias do mundo quando você souber fazer isso com consciência e respeito.
Embora seja um eterno aprendizado, com equilíbrio se consegue.
Para um grande amigo que conheci no período de internação: cientista que conversava comigo, enquanto imaginava mentalmente como é nosso vasto Universo.
Hoje, nosso encontros são regados a cafés, livros, vídeos e telescópios.
Ele sempre fala que a Terra é um palco pequeno demais para o que imaginamos ser.
E assim a cada dia, vamos aprendendo mais sobre limites e humildade.
Limite: respeito, consigo mesmo e com os outros.
Humildade: até onde posso ir, sem ferir o outro com minhas idéias e opiniões.
O Universo é vasto e respeitoso demais, havendo espaço para todas as estrelas, planetas e a renovação quando se faz necessária, sem alardes.
:D
(ficção - pura ficção)
Se você soubesse o quanto é dolorido aguardar o farol abrir, porque ele indica-me que devo seguir adiante.
A última vez que nos vimos, estava no banco do passageiro e você a olhar para o nada na rua.
Os carros passavam lentamente.
O semblante de uma pessoa forte, escondia o coração de alguém que se encontrava aquebrantado.
Você estará ao meu lado no dia da minha morte ou sou eu que estarei?
Mesmo que todos os dados sejam jogados e todas as cartas indiquem que estarás bem, não é essa a resposta do céu.
A chuva caindo lentamente enquanto volto no tempo e vejo seu rosto lentamente a virar para o lado contrário, responde silenciosamente que ao chegar o cansaço, você saberá que ainda estarei esperando.
Porque a angústia dividiu muitas xícaras de café comigo.
"A angústia surge do momento em que o sujeito está suspenso entre um tempo em que ele não sabe mais onde está, em direção a um tempo onde ele será alguma coisa na qual jamais se poderá reencontrar".
(Jacques Lacan)
Sempre passo em frente a uma academia de dança na rua da Consolação (quase em frente ao Cine Belas Artes).
Várias vezes já vi os alunos dançando.
Sempre vem à mente o mesmo pensamento:
- Afaste-se de quem faz da sua vida uma música sem compasso e aproxime-se de quem dança junto com você no mesmo ritmo.
Porque eu vi essa cena (um dia desses dias) do ônibus:
A semana passada foi de dor para todos.
Essa semana morre Ferreira Gullar.
Há algo que para mim não faz muito sentido ficar expondo, porque fui eu que passei e cada um possui sua experiência e foi algo tão pessoal e transformador.
Eu fiquei um bom tempo internada entre UTI e quarto.
A doença que possuo (e cujo diagnóstico se fechou em maio este ano), deixou uma perda significativa de visão em ambos os olhos.
E, no ano que vem começo um tratamento preventivo para que a progressão, quem sabe, possa se estagnar.
O que mais marcou-me no período da internação foram duas coisas: ficar ao lado da Ala de Queimados (o qual eu precisava passar ao alado a porta, para ir à soleira) e depois a Ala dos Amputados (a soleira era justamente nessa ala).
Passei muito tempo em silêncio na soleira com várias pessoas: idosos, adolescentes, adultos.
Nós olhávamos a cidade do alto de uma ala, onde cada um trazia em si sua história.
Eu vi através da porta, uma criança de três anos na Ala de Queimados (toda enfaixada com um tecido que protege a pele) querendo brincar e sorrindo.
E, no silêncio da soleira junto com as outras pessoas que ali dividiam o espaço comigo, vinha a seguinte pergunta:
- Quem verdadeiramente se importa com a condição que nos encontramos e como vivemos?
Hoje, ver o noticiário, acompanhar twitter, ouvir nas ruas o quanto as pessoas falam mal de seus companheiros de trabalho, qual a última moda, tudo isso pouco importa.
O que eu me pergunto agora é:
- O quanto eu posso ficar em silêncio igual fiquei na soleira?
Mesmo que o mundo ainda grite dentro de mim.
Eu preciso encontrar esse lugar.
O que mais desejei às pessoas que sofreram esse acidente aéreo foi isso: encontrar um lugar de silêncio diante de todo e qualquer pensamento e sentimento que possa ter passado na mente de todos.
Essa música me acompanhou muito em pensamento durante o período da internação.
Tirando a parte do vinho (eu não bebo), essa música faz com que me lembre o médico que me acompanha em tratamento e como diz dr. Jared Leto, é meu exemplo de que a vida deve seguir.
Os adolescentes que dividiram a soleira comigo disseram que existem dois heróis na vida: os médicos e os cientistas.
Acho que eles têm razão., porque como eles disseram:
- Quando você encontra a resposta correta para sua doença através de um ser humano, tudo se encaixa.